FAEP oferece educação básica híbrida para alunos de baixa renda
Um corte de quase 100% entre 2012 e 2020: essa é a porcentagem correspondente à bruta redução do orçamento federal destinado à Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade da educação básica voltada para todos aqueles que ainda não tiveram acesso e/ou não concluíram o ensino fundamental. De acordo com dados publicados no Jornal Le Monde Diplomatique Brasil, em 2012, o governo federal investiu quase 1,8 bilhão de reais nesse programa de ensino.
No entanto, após o ano de 2016, o investimento foi reduzido a 8 milhões em 2020, o que corresponde a uma queda de 99,56%. Trata-se de um cenário desolador, em um país que ainda possui cerca de 11 milhões de analfabetos, segundo dados do IBGE.
Para Vânia Aparecida da Costa, diretora acadêmica da FAEP, tais dados são um reflexo de como esse setor é um dos mais prejudicados e menosprezados pelo governo. “Não existem propostas a longo prazo para o programa EJA. Ele não é citado em nenhum plano governamental. Também não é feito levantamento do número de pessoas que possuem acesso a essa modalidade de ensino”, afirma a diretora.
Ela defende, inclusive, a implantação de uma política de permanência dos estudantes no programa, considerando que a difícil realidade de muitos, os quais realizam trabalhos precários durante longas horas por dia para sustentar a família, os impede de dar continuidade aos estudos. “Dentro desse contexto, portanto, além do investimento em infraestrutura e construção de mais escolas próximas a esses estudantes, é preciso pensar em maneiras de mantê-los nesse ciclo de ensino”, afirma.
Vânia também ressalta que as diversas propostas governamentais para o ensino médio não contemplam os estudantes mais vulneráveis que necessitam estudar e trabalhar ao mesmo tempo, contribuindo para o aumento da evasão escolar. “Com a ampliação do número de escolas do ensino médio em período integral, por exemplo, a situação se agrava ainda mais, já que eles precisarão permanecer mais tempo na escola.
Pensando em tudo isso, a FAEP, localizada no bairro Parada de Taipas, região noroeste de São Paulo, em parceria com o Centro de Ensino Educa Nexus e o Centro de Integração de Cidadania Oeste (CIC Oeste) lançou, em 2021, o projeto Quebrada Atualizada, que tem como base justamente o programa EJA. De acordo com Vânia, a proposta tem como objetivo oferecer 100 vagas de acesso à educação básica, no formato híbrido, para jovens e adultos de baixa renda, localizados na comunidade do entorno e proximidades, que não concluíram os estudos no tempo regular, através de metodologias educacionais sociais e construtivas.
“Nós queremos que esses alunos concluam seus estudos. Assim, oferecemos a opção da modalidade híbrida, a fim de que os educandos consigam se organizar em relação aos estudos, conforme a sua realidade”, explica a diretora. Nesse contexto, além dos livros de apoio, a instituição oferece aulas presenciais na própria faculdade com transmissão simultânea ao vivo, assim os estudantes podem optar por assistirem as aulas dentro do espaço da FAEP ou conectar remotamente de outro local. As aulas ainda ficam gravadas na plataforma da instituição, para que possam ser acessadas a qualquer momento pelos educandos que não puderam acompanhar em tempo real ou que desejam revisar algum conteúdo. “Todos os estudantes recebem um material de estudo, cuja revisão de conteúdo é feita nas aulas”, complementa a diretora.
A 1ª edição do projeto já foi concluída e muitos estudantes que terminaram o ensino médio relataram uma experiência positiva. “Recebemos muitos elogios de educandos. Eles nos disseram que, graças às aulas gravadas, conseguiram concluir os estudos, pois, em razão do trabalho incessante, era impossível acompanhar as aulas ao vivo. Houve, até mesmo, casos de estudantes em que foi necessário remarcarmos as provas, a fim de que não fossem demitidos por seus chefes, pois estes não permitiam faltas no trabalho, nem para fazer o teste final das aulas”, diz Vânia. Agora, o projeto acaba de começar sua 2ª edição com as 100 vagas preenchidas. “Nós tivemos uma grande procura, foram 400 inscrições. Muitos já nos perguntam sobre a próxima edição”. A seleção dos inscritos ocorre a partir da análise socioeconômica dos candidatos, além de contar com uma reserva de vagas para pessoas trans, mulheres vítimas de violência doméstica e estrangeiros.
Concluídas as aulas do projeto, todos os educandos são incentivados pela FAEP a se matricular em um curso de graduação e assim conseguirem melhores oportunidades de emprego. “Só vamos tirar as pessoas da vulnerabilidade com educação e emprego. Elas precisam aprender a conquistar o que precisam. Esse é o nosso objetivo com o projeto”, conclui a diretora.
Edilaine Daniel Carvalho, professora de Pedagogia da FAEP e ex-diretora do CIC Oeste, uma das pessoas que está auxiliando no desenvolvimento do Quebrada Atualizada, é um exemplo de como educação é a chave para a ascensão profissional. Começando a trabalhar aos 7 anos, arrumando covas no cemitério de Perus, em São Paulo, para ajudar no sustento da família, composta pelos pais e mais seis irmãos, que vivia em um barraco de madeira, a professora viu sua vida mudar quando estava prestes a completar 15 anos. Na época, ela recebeu um convite para trabalhar como operadora de telemarketing da LBV, por um homem que se interessou pela sua história de vida e pelo fato de ela estudar e ser rigidamente cobrada por sua mãe.
Aos 18 anos, quando já estava prestes a iniciar o curso universitário de estudos sociais, Edilaine foi convidada por uma professora que lhe deu aula na 3ª série do primário, e que naquele momento era diretora da escola, a dar aulas de História e Geografia. Anos depois, ela se tornou professora voluntária da antiga Febem de Franco da Rocha. Hoje, a educadora possui uma série de projetos sociais destinados a oferecer educação e emprego formal para jovens e adultos de baixa renda ou desempregados, mulheres vítimas de violência doméstica, pessoas trans e muitos outros que enfrentam dificuldades para concluírem seus estudos e conquistarem melhores opções de emprego.
Emocionada, ela contou sua história de vida no 1º dia de aula da 2ª edição do projeto Quebrada Atualizada, comovendo os alunos, com o intuito de ressaltar como a educação e o emprego formal mudaram sua vida para sempre.