Formação inadequada dos professores de inglês afeta ensino bilíngue no Brasil
Uma pesquisa realizada pelo British Council apontou que apenas 5% da população brasileira fala inglês – sendo que apenas 1% dessas pessoas são fluentes. Esse dado impacta diretamente no ensino bilíngue no Brasil, que tem hoje uma grande defasagem na formação de professores. Dados apontam que dos 172 mil docentes da língua inglesa no Brasil, mais de 16% não possuem superior completo. Levantamento publicado pelo Observatório para o Ensino da Língua Inglesa mostra que, do total de turmas de língua inglesa em todas as redes, apenas 29,42% possuem docentes com titulação adequada. A grande maioria não possui formação complementar acima de 80 horas. Enquanto 61,49% não possui formação complementar, a maior parte tem apenas licenciatura ou bacharelado em Letras.
Em 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE), mediante as Diretrizes Curriculares Nacionais para a oferta de Educação Plurilíngue, estabeleceu como base para professores de escolas bilíngues, o nível de proficiência linguística B2, do CEFR (Common European Framework), que é um padrão internacionalmente reconhecido para descrever a proficiência em um idioma. Mais do que dominar o idioma, o docente da escola bilíngue precisa ir além do ensino da língua per se. Com uma carga horária mais extensa, os alunos são diariamente expostos à língua adicional, que passa a ser integrada a diferentes áreas do conhecimento.
Em um mercado que movimenta, por ano, cerca de R$ 250 milhões no Brasil, a qualificação dos professores inseridos no segmento bilíngue é fundamental, ainda mais quando avaliado o contexto de alunos cada vez mais conectados e imersos no inglês, seja através de músicas, séries ou games.
Para Andreia Fernandes, Coordenadora Acadêmica do Edify Education, empresa de soluções educacionais em inglês para escolas, um dos problemas na defasagem da formação de professores é a metodologia usada para acesso à graduação Letras Português/Inglês, requisito obrigatório para os docentes do idioma. “O sistema de avaliação para ingresso no curso de Letras, por exemplo, não inclui uma prova de habilidades específicas em relação à competência linguística oral do candidato. Muitos começam a graduação sem saber nem o básico. E uma das funções do ensino superior, com foco na licenciatura, por exemplo, é preparar o graduando para ministrar aulas e não ensinar o idioma em si”, esclarece.
A especialista destaca ainda que a boa atuação do profissional exige uma educação continuada. “Isso vale para qualquer carreira, mas aqui falo especialmente para os professores. O diploma de graduação não é necessariamente uma garantia da habilidade linguística para o professor lecionar inglês. É fundamental que o professor esteja em constante aprendizado, fazendo cursos de atualização, especializações, praticando o idioma e buscando sempre inovar nas práticas pedagógicas. Há várias opções no mercado, inclusive gratuitas, e que podem ser feitas de forma online. Educação continuada é um tesouro a ser explorado”, ressalta Andreia Fernandes.
“Sabemos que ser professor no Brasil é um desafio. Mas é preciso haver uma mudança de mindset para entender que quem ensina precisa se manter em constante aprendizado. Sabemos que a profissão exige uma dedicação fora da sala de aula, com montagem de exercícios, correção de provas, preparação das aulas, mas o professor também precisa desse olhar para si mesmo e buscar cursos de formação complementar. É um investimento que beneficia o próprio professor, mas reverbera também na qualidade do aprendizado dos alunos”, finaliza Andreia Fernandes.