Tecnologia digital: o futuro é brilhante, mas depende da ética
Durval Jacintho é Engenheiro Eletrônico e Mestre em Automação Industrial; tem mais de 37 anos de carreira e compartilha impressões sobre transformações tecnológicas, ética, responsabilidade e complexidades humanas
Entusiasta da tecnologia, da transformação e do futuro digital, Durval Jacintho é consultor sênior de tecnologia digital e telecomunicações. Engenheiro Eletrônico e Mestre em Automação Industrial, ele também tem MBAs no currículo e profundo conhecimento técnico e tecnológico, voltando-se diversas vezes para a inovação. Com tanto para compartilhar, Jacintho participa ativamente de uma agenda para desenvolver estratégias e soluções tecnológicas para empresas, a fim de assegurar a conformidade organizacional e a implementação das melhores práticas de governança corporativa. Também é uma referência quando o assunto é inteligência artificia
Para ele, é importante que todos conheçam o universo da tecnologia, pois “hoje utilizamos diversas delas, principalmente via internet, mas nem sempre sabemos sobre a infraestrutura, qual foi o esforço para chegar até aqui e quem criou tudo isso”. Jacintho diz que, dessa forma, também é possível avaliar o custo-benefício das tecnologias para as empresas, funcionalidades, aplicações e riscos de utilização.
Ele cita, por exemplo, o uso da Inteligência Artificial Generativa pelas empresas. “Pela grande capacidade de gerar dados, imagens, áudios e vídeos, a cada dia vemos novas ferramentas e aplicativos de IA, como se fosse uma corrida ao ouro do século XXI das empresas startups e big techs”, comenta Jacintho, acrescentando que a Inteligência Artificial também é responsável por movimentar diversos setores da economia e tem o potencial de colocar mais empresas de tecnologia entre as de maior valor de mercado, mencionando a líder Apple, que alcançou o valor recorde de três trilhões de dólares.
Aliás, de acordo com uma pesquisa do Observatório Febraban, feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), o avanço da Inteligência Artificial tem gerado o medo do desemprego para 43% dos brasileiros. Para pessoas na faixa etária entre 18 e 26 anos, da geração Z, que trabalham com tecnologia, programação e internet, a porcentagem é ainda maior: 52%. De acordo com o estudo, eles estão preocupados que a atividade em que atuam passe a ser realizada por robôs.
Mas, para Durval Jacintho, isso está longe de acontecer. “O mundo não vai se transformar abruptamente com essa nova tecnologia de propósito geral, tal como ocorreu com as antecessoras, a máquina a vapor, a eletricidade e a microeletrônica. A universalização da adoção requer tempo, treinamento e recursos, como ocorreu com o celular e a internet. Então, empregos serão transformados e o ser humano sempre estará no comando”, defende ele, cuja preocupação volta-se mais ao uso ético da tecnologia, principalmente após a chegada e o uso das redes sociais.
“A ética é fundamental em qualquer campo e na tecnologia não é diferente. Eu digo que a ética é o limite da tecnologia. A privacidade na nova era da tecnologia digital é uma preocupação real, porque as pessoas passaram a se expor mais, seja por vaidade, necessidade de pertencimento a um grupo de afinidade ou por solidão na vida íntima. Isso leva a um risco muito alto de exposição de dados pessoais e dá grande poder às big techs, donas das plataformas de redes sociais”, comenta. A fala de Durval Jacintho vai ao encontro de uma pesquisa recente da ElectronicsHub, que mostrou que o brasileiro passa, em média, 22,37% do dia conectado às mídias sociais, como Instagram, TikTok e outras.
“Por isso surgiram as leis de proteção de dados, como a LGPD no Brasil. Já tivemos escândalos de violação de privacidade com multas milionárias, como ocorreu com a da Cambridge Analytica, que coletou, sem autorização, dados pessoais de 87 milhões de usuários do Facebook e os usou para a divulgação direcionada de propaganda política na campanha eleitoral de Donald Trump em 2016”, comenta o engenheiro, complementando que, com a inteligência artificial, “até o direito à privacidade dos mortos passa a ser questionado, como na polêmica propaganda da Volkswagen sobre a Kombi com a Elis Regina, revivida com ajuda da IA, e sua filha Maria Rita.”
Para Jacintho, entretanto, a tecnologia digital é capaz de provocar experiências afirmativas também. “A mais positiva é a possibilidade de conexão de pessoas, em qualquer lugar do mundo. Com as redes satélites levando internet globalmente, ninguém está mais isolado. Além disso, ela pode contribuir, por exemplo, para a agenda ESG quanto à prevenção de incidentes ambientais e otimização de áreas agrícolas. No social, podemos destacar as novas formas de trabalho, pois sem tecnologia não teríamos trabalhado na pandemia; a produtividade e otimização do tempo das pessoas, com a semana de 4 dias já sendo uma realidade; e a medicina, que só aumenta a expectativa de vida das pessoas. Na governança, temos as inúmeras informações de gestão, monitoração e controle que a ciência de dados possibilitou”, explica Durval que, contudo, considera a forma mais perigosa do uso da tecnologia acontecendo em uma guerra. “Amplia-se a capacidade de destruição, que já não é pequena.”
Livro discute transformação digital e complexidades humanas
Para defender todas essas ideias e debater questões sobre inteligência artificial, transformação digital e complexidade humana, Durval Jacintho escreveu o livro “Eu Mudei o Mundo – A Tecnologia Digital em Análise”, lançado pela Editora Laços. “Há muito tempo eu sonhava em escrever sobre transformação digital, mostrando a história das tecnologias e impactos no mundo atual. Mas eu queria algo que não fosse somente para técnicos ou profissionais da área, então me inspirei no romance ‘O mundo de Sofia’, de Jostein Gaarder, que fala de filosofia para adolescentes utilizando uma ficção. Assim, contei a história da tecnologia usando uma robô humanoide, a professora DigTec, que se apresenta como representante da tecnologia. Minha personagem é uma criação futurista da inteligência artificial, totalmente autônoma e com grande conhecimento e capacidade de argumentação, ela é singular. Entretanto, entra em crise existencial ao ser programada para lidar com sentimentos humanos, o que a tornaria mais empática em seu trabalho. Para se tratar, DigTec recorre à psicoterapia”, explica o autor.
De acordo com Jacintho, a obra “destina-se a estudantes e pessoas que procuram compreender as tecnologias digitais desenvolvidas a partir da Terceira Revolução Industrial. Também dialoga com profissionais do setor que buscam se atualizar sobre o legado da tecnologia digital em relação aos avanços e o futuro das relações sociais, as formas de trabalho, consumo, os mecanismos de poder e impactos econômicos e ambientais.”
“O livro tem três objetivos principais: explicar aos leigos o que são essas tecnologias, suas histórias e criadores; refletir sobre os impactos positivos e negativos delas nas nossas vidas, os limites da tecnologia e as questões éticas envolvidas e, por fim, discutir questões como: a inteligência artificial vai dominar o mundo? Um robô pode lidar com sentimentos humanos? Quem são os responsáveis pelas externalidades negativas da tecnologia?”, finaliza Jacintho.
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