Medicina apresenta desequilíbrio entre candidatos e vagas
O mais recente Censo da Educação Superior divulgado pelo Ministério da Educação, no último mês de fevereiro, revelou um descompasso entre o número de candidatos e vagas disponibilizadas para o curso de Medicina. Em quatro anos, a quantidade de cadeiras em Faculdades de Medicina no Brasil cresceu 48%, enquanto o total de inscritos nos vestibulares sofreu uma retração de 1,5%. Isso representa que a concorrência passou de 31 para 21 vestibulandos por vaga.
O estudo divulgado pelo MEC aponta esse desequilíbrio na demanda x oferta do curso de Medicina desde 2018. Por outro lado, a graduação aparece entre as dez com maior número de ingressantes desde 2019, tendo registrado seu pico em 2020, com 204.279 mil matrículas. Como pode ser observado na tabela abaixo.
ANO | VAGAS | CANDITADOS |
2016 | 34.389 mil | 1.084 milhões |
2017 | 36.609 mil | 1.071 milhões |
2018 | 45.896 mil | 1.052 milhões |
2019 | 47.539 mil | 1.075 milhões |
2020 | 51.024 mil | 1.067 milhões |
Fonte: Censo da Educação Superior
Um mapeamento do portal Melhores Escolas Médicas (MEM) revela, no entanto, que essa desmobilização de estudantes em busca de uma carreira médica já começou a ser revertida em algumas instituições de ensino. A disputa por um lugar em Medicina na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aumentou no vestibular de 2022, por exemplo. De acordo com a comissão organizadora (Comvest), a relação candidato/vaga foi de 324,7 na última edição, 5,3% maior que o registrado no ano anterior (308,3).
Na Universidade de São Paulo (USP), a carreira de Medicina também liderou o ranking de concorrência tanto no número total de candidatos inscritos (15.224) quanto na relação de candidatos por vaga (124,8) no vestibular passado. Por outro lado, a quantidade de vestibulandos foi 19% menor do que no processo seletivo anterior (2021), quando houve 18.856 inscritos.
“No início dos anos 2000, com o aumento da demanda por Medicina no setor público, algumas intuições registraram 200 candidatos por vaga. Posteriormente, quando o setor público criou novas universidades e, consequentemente, aumentou o número de vagas, conseguiu dar vazão a essa grande concorrência. Por outro lado, as instituições privadas passaram a ser uma opção viável para quem tinha poder econômico. O crescimento foi muito grande e mexeu com esse equilíbrio da oferta/procura. O setor privado, aliado ao aumento da oferta no setor público, fez a demanda crescer muito”, explica o reitor da Universidade São Francisco e ex-presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Gilberto Garcia.
Esse cenário tem norteado discussões de especialistas em educação superior, especialmente em relação ao impacto da pandemia da Covid-19 na preparação para o vestibular dos jovens brasileiros. Para além das questões de vulnerabilidade social e econômica, muitos desistiram de ir às provas, seja por não se sentirem preparados o suficiente ou até mesmo pela falta de dinheiro para pagar as taxas de inscrição, por exemplo.
“Nos últimos anos, com a pandemia, vários setores foram abalados, principalmente a economia do país, e isso ecoa diretamente na educação, notadamente em diversos cursos de graduação, principalmente em Medicina, pelo valor médio de mensalidade que está entre R$ 5 mil e R$ 12 mil”, acrescenta o conselheiro CNE.
De acordo com Garcia, questões demográficas ligadas à concentração das Escolas Médicas nos grandes centros urbanos, além das mudanças na dinâmica do processo seletivo, também justificam esse ritmo divergente na equação candidato/vaga.
“O Sisu (Sistema de Seleção Unificada) contribui para essa relação. O estudante faz a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), coloca sua nota no Sisu e caso não consiga atingir a nota de corte, não se inscreve ou não tenta em outra instituição”, explica o professor doutor, acrescentando que “se o aluno quer cursar Medicina, mas não tem condições financeiras para morar em outra cidade, ele acaba desistindo e vai tentar mais uma vez o vestibular em uma instituição de ensino superior próxima ou dentro do seu estado. Em alguns casos, entra em outra graduação que ele consiga arcar financeiramente”, destaca Gilberto Garcia.