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Projetos para avaliar risco de queda de árvores não saíram do papel em SP

Durante o temporal desta quarta (15), mais de 120 árvores caíram na Grande São Paulo em cerca de seis horas

O mês de novembro foi marcado por fortes chuvas, quedas de árvores e falta de energia elétrica em São Paulo. Em um efeito dominó, mais de 2 milhões de paulistas ficaram sem luz e oito pessoas morreram em decorrência da tempestade do dia 3. Um novo apagão foi registrado em decorrência do temporal desta quarta-feira (15), quando mais de 120 árvores caíram na Grande São Paulo.

A queda de árvores em fiação, em vias públicas e em imóveis, segundo as concessionárias de fornecimento de energia, foi a principal responsável pela suspensão dos serviços.

Ao longo dos anos, governos apresentaram projetos para recensear as condições arbóreas. O último estudo da Prefeitura de São Paulo durou dois anos e foi descontinuado sem apresentar o mapeamento.

Em 2019, a Prefeitura da capital paulista firmou uma parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para o diagnóstico da saúde e riscos de quedas de árvores no município. Porém, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, afirmou à CNN que “o projeto foi encerrado formalmente em 31 de dezembro de 2021 e sem resultados finais apontados por ter sido descontinuado por causa da pandemia”.

Antes do censo do IPT, outro projeto foi implementado em setembro de 2015, o Plano Intensivo de Manejo Arbóreo (PIMA), que juntou um grupo técnico para a prevenção de ocorrências nos períodos de chuvas e a redução dos riscos de quedas de árvores na cidade de São Paulo.

O PIMA durou pouco mais de três meses e atuou em oito das 32 subprefeituras da capital paulista, com um investimento de R$ 4 milhões.

Em setembro de 2020, a Prefeitura de São Paulo lançou o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), com duração de 20 anos, para melhorar a gestão, o manejo e criar um sistema de gestão participativa das árvores da cidade. O plano, que tem período de revisão a cada cinco anos, ainda não apresentou resultados.

“O PMAU tem 170 ações distribuídas em 5 temas e 42 estão em implementação. A primeira ação do plano é contratar o inventário arbóreo. Estamos com um grupo elaborando um termo de referência para contratá-lo e um outro grupo de trabalho, que está sendo formado, para elaborar um plano emergencial para análise de risco de queda”, explica a coordenadora do PMAU, Priscilla Cerqueira.

Tecnologia

Além da falta de ações em exercício do PMAU, a tecnologia utilizada pela prefeitura para realizar a gestão das árvores está desatualizada. O SISGAU, Sistema Integrado de Gerenciamento de Árvores Urbanas, foi criado em 2004 pelo IPT, por meio de um contrato com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Essa é a principal ferramenta para cadastro e gestão da arborização da cidade, segundo o documento oficial do Plano Municipal de Arborização Urbana.

De acordo com o mesmo documento do PMAU, além das dificuldades com lentidão e praticidade, o sistema “não define o fator de risco do exemplar com orientação para manejo”.

A coordenadora do Plano afirma que uma nova tecnologia já está em desenvolvimento. O Sistema de Gestão de Arborização, ou SISARB, começou a ser desenvolvido em fevereiro deste ano e a conclusão está prevista para fevereiro de 2026.

“A Prodam, Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo, já está desenvolvendo o novo sistema e ele servirá não só como uma base de dados do inventário, mas também para colocar a recomendação do manejo e como ele será executado”.

O biólogo e pesquisador do IPT, Sérgio Brazolin, destaca a importância desses estudos para a prevenção de tragédias como as vivenciadas nas últimas semanas, principalmente com a eminência de novos eventos climáticos extremos, de acordo com o especialista.

“Deve ser feito o manejo e planos preventivos para tirar as árvores que tem defeitos como cavidades, com cupim e as que estão tombando, e deve ser feito antes do verão. O que observamos é que os ventos e esses eventos extremos serão mais frequentes a partir de agora. É preciso ter essa consciência e se organizar para isso”, afirma Brazolin.

Projeto estadual

governo de São Paulo realiza uma pesquisa desde 2018 para definir como utilizar a inteligência artificial para monitorar e identificar árvores deficientes no estado. O “Plano de desenvolvimento institucional na área de transformação digital: manufatura avançada e cidades inteligentes e sustentáveis”, que faz parte do Programa Fapesp de Modernização de Institutos Estaduais de Pesquisa, e está vigente desde maio de 2018, até março de 2024.

Sérgio Brazolin, que faz parte do projeto, explica que existem duas frentes da iniciativa. A primeira é a possibilidade de tirar fotos das árvores e, por meio das imagens, identificar a probabilidade de risco de ruína. A segunda é a instalação de sensores que medem o deslocamento da árvore no vento, para estabelecer o seu nível de ruptura. Seria feita uma gestão em tempo real com o envio dos dados às prefeituras, por meio da IA.

Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que financia a iniciativa, prevê um investimento de R$ 120 milhões a 12 instituições beneficiadas.

“Ainda estamos em fase de pesquisa, mas os sensores podem ser utilizados para monitorar árvores, isso já é uma excelente resposta. Mas ainda é preciso colocar em prática. Também há indicações de que a inteligência artificial tem boa possibilidade de monitorar a arborização urbana”, compartilha Brazolin sobre os resultados parciais do projeto.

Consequências

O professor do departamento de Ciências Florestais da Universidade de São Paulo, Demóstenes Silva Filho, afirma que o risco de queda das árvores na cidade é negligenciado. “Nessa época que começam mais chuvas, vamos encontrar mais acidentes. Sempre é uma ação imediatista quando acontece algum temporal. Os eventos climáticos são pontuais e previsíveis”, diz o especialista em silvicultura.

Apenas durante as chuvas da última quarta-feira (15), o Corpo de Bombeiros de São Paulo recebeu 122 chamados para quedas de árvores na capital e na região metropolitana em um intervalo de seis horas. Já entre os dias 3 e 5 de novembro, os Bombeiros foram chamados para 2.386 ocorrências do tipo.

A Prefeitura ainda afirmou em nota que a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente realizou um mapeamento da vegetação do município em 2023, algo que não ocorria desde 1988, e será disponibilizado em breve no GeoSampa – o mapa digital da cidade.

Sob supervisão de Elis Franco e Bruno Laforé

Fonte: CNN Brasil

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