O PIMA durou pouco mais de três meses e atuou em oito das 32 subprefeituras da capital paulista, com um investimento de R$ 4 milhões.
Em setembro de 2020, a Prefeitura de São Paulo lançou o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), com duração de 20 anos, para melhorar a gestão, o manejo e criar um sistema de gestão participativa das árvores da cidade. O plano, que tem período de revisão a cada cinco anos, ainda não apresentou resultados.
“O PMAU tem 170 ações distribuídas em 5 temas e 42 estão em implementação. A primeira ação do plano é contratar o inventário arbóreo. Estamos com um grupo elaborando um termo de referência para contratá-lo e um outro grupo de trabalho, que está sendo formado, para elaborar um plano emergencial para análise de risco de queda”, explica a coordenadora do PMAU, Priscilla Cerqueira.
Tecnologia
Além da falta de ações em exercício do PMAU, a tecnologia utilizada pela prefeitura para realizar a gestão das árvores está desatualizada. O SISGAU, Sistema Integrado de Gerenciamento de Árvores Urbanas, foi criado em 2004 pelo IPT, por meio de um contrato com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Essa é a principal ferramenta para cadastro e gestão da arborização da cidade, segundo o documento oficial do Plano Municipal de Arborização Urbana.
De acordo com o mesmo documento do PMAU, além das dificuldades com lentidão e praticidade, o sistema “não define o fator de risco do exemplar com orientação para manejo”.
A coordenadora do Plano afirma que uma nova tecnologia já está em desenvolvimento. O Sistema de Gestão de Arborização, ou SISARB, começou a ser desenvolvido em fevereiro deste ano e a conclusão está prevista para fevereiro de 2026.
“A Prodam, Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo, já está desenvolvendo o novo sistema e ele servirá não só como uma base de dados do inventário, mas também para colocar a recomendação do manejo e como ele será executado”.
O biólogo e pesquisador do IPT, Sérgio Brazolin, destaca a importância desses estudos para a prevenção de tragédias como as vivenciadas nas últimas semanas, principalmente com a eminência de novos eventos climáticos extremos, de acordo com o especialista.
“Deve ser feito o manejo e planos preventivos para tirar as árvores que tem defeitos como cavidades, com cupim e as que estão tombando, e deve ser feito antes do verão. O que observamos é que os ventos e esses eventos extremos serão mais frequentes a partir de agora. É preciso ter essa consciência e se organizar para isso”, afirma Brazolin.
Projeto estadual
O governo de São Paulo realiza uma pesquisa desde 2018 para definir como utilizar a inteligência artificial para monitorar e identificar árvores deficientes no estado. O “Plano de desenvolvimento institucional na área de transformação digital: manufatura avançada e cidades inteligentes e sustentáveis”, que faz parte do Programa Fapesp de Modernização de Institutos Estaduais de Pesquisa, e está vigente desde maio de 2018, até março de 2024.
Sérgio Brazolin, que faz parte do projeto, explica que existem duas frentes da iniciativa. A primeira é a possibilidade de tirar fotos das árvores e, por meio das imagens, identificar a probabilidade de risco de ruína. A segunda é a instalação de sensores que medem o deslocamento da árvore no vento, para estabelecer o seu nível de ruptura. Seria feita uma gestão em tempo real com o envio dos dados às prefeituras, por meio da IA.
A Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que financia a iniciativa, prevê um investimento de R$ 120 milhões a 12 instituições beneficiadas.
“Ainda estamos em fase de pesquisa, mas os sensores podem ser utilizados para monitorar árvores, isso já é uma excelente resposta. Mas ainda é preciso colocar em prática. Também há indicações de que a inteligência artificial tem boa possibilidade de monitorar a arborização urbana”, compartilha Brazolin sobre os resultados parciais do projeto.
Consequências
O professor do departamento de Ciências Florestais da Universidade de São Paulo, Demóstenes Silva Filho, afirma que o risco de queda das árvores na cidade é negligenciado. “Nessa época que começam mais chuvas, vamos encontrar mais acidentes. Sempre é uma ação imediatista quando acontece algum temporal. Os eventos climáticos são pontuais e previsíveis”, diz o especialista em silvicultura.
Apenas durante as chuvas da última quarta-feira (15), o Corpo de Bombeiros de São Paulo recebeu 122 chamados para quedas de árvores na capital e na região metropolitana em um intervalo de seis horas. Já entre os dias 3 e 5 de novembro, os Bombeiros foram chamados para 2.386 ocorrências do tipo.
A Prefeitura ainda afirmou em nota que a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente realizou um mapeamento da vegetação do município em 2023, algo que não ocorria desde 1988, e será disponibilizado em breve no GeoSampa – o mapa digital da cidade.
Sob supervisão de Elis Franco e Bruno Laforé
Fonte: CNN Brasil