Conheça 10 regras para criar um app de sucesso
Especialista aponta necessidade de imersão profunda no negócio, acompanhamento das etapas de desenvolvimento e minimização de riscos para que o app seja bem sucedido
O número expressivo de pessoas consumindo pelo meio digital, movimento intensificado com a pandemia, faz com que haja crescimento no lançamento de novos aplicativos, seja para produtos ou serviços. Levantamento da Pew Research Center aponta que o Brasil lidera o ranking dos países com maior crescimento mobile, abrangendo 60% dos adultos. Além disso, os brasileiros usam em média 30 apps dos 80 instalados no seu smartphone.
Por isso, a concorrência tem sido cada vez maior e a linha que separa apps de sucesso dos que fracassam é tênue. A afirmação é de João Paulo Zerek, sócio da Gebit, fábrica de software e aplicativos customizados que já colocou no mercado mais de 150 aplicativos e cresceu, em 2020, 77% no seu faturamento em comparação com o ano anterior – acima da média estimada para o setor.
Para o especialista, existem dois cuidados básicos que o empreendedor precisa levar em conta ao se lançar nesse mercado, que no ano de 2021 deve movimentar US$ 6,3 trilhões no mundo. O primeiro cuidado é ter uma visão ampla do mercado e analisar a sua viabilidade. A outra atenção é com o projeto de desenvolvimento e seu escopo, que é complexo, ao contrário do que o senso comum imagina.
Zerek aponta que o aplicativo, em geral, é apenas um instrumento para o negócio. “O que determina o sucesso do aplicativo é uma imersão profunda na área em que o mesmo será empregado aliado a uma excelente estratégia de marketing”, garante ele.
Conheça 10 dicas que podem ajudar a determinar a probabilidade de sucesso ou não do seu negócio:
1. Apaixone-se pelo problema e não pela solução
Uma das primeiras tarefas é identificar qual problema o você pretende resolver para o mercado com o seu app e tornar-se especialista na sua resolução. “Quem se apaixona apenas pela solução que o aplicativo traz fica com a mente fechada a novas possibilidades e o feedback do mercado pode ser muito negativo”, garante Zerek. Estar focado no problema deixa o caminho aberto para que encontre uma solução melhor no futuro com chances maiores de sucesso.
2. Tenha clareza do que quer
É comum muitos empreendedores terem a ideia geral do negócio, mas não terem clareza dos seus desdobramentos em fluxos e processos. “Isso é natural que aconteça e é por isso que recomendamos que as empresas contratadas tenham uma etapa de análise para auxiliar o empresário a consolidar a ideia, cabendo ao cliente fazer levantamento de regras jurídicas e contábeis”, orienta o empresário.
3. Não é preciso inventar a roda
Uma atitude importante é estar disposto a modelar o que está dando certo e não perseguir necessariamente uma ideia original. Em alguns casos, o problema está resolvido por alguma solução do mercado, sendo possível aproveitar o conhecimento e aperfeiçoá-lo. Isso torna o lançamento muito mais rápido e com mais assertividade. “Um exemplo clássico é a escolha do ponto por uma grande rede de fast-food. Após comprar o terreno e se instalar, o concorrente chega e adquire outro na esquina, deixando de gastar dinheiro para identificar o melhor ponto”, analisa.
4. Testes de negócio
Saia do escritório e experimente, não se restrinja a imaginar o que o cliente deseja. É preciso ir às ruas e bater na porta do público-alvo, fazer testes para verificar como o mercado reage à proposta de valor e medir campanhas A/B para validar hipóteses. Tudo de forma ágil e rápida para sentir a reação e conseguir fazer ajustes à medida que as respostas são coletadas.
5. Cultura de TI
Mesmo que você desconheça os bastidores da área de TI, é importante entender algumas peculiaridades do processo de trabalho, que envolve a customização do software, desenvolvido do zero e feito especialmente para determinada demanda. Ao contrário do que o senso comum acredita, o desenvolvimento é um artefato complexo, com dezenas de camadas de estruturas lógicas. Daí a importância de especificar as regras e prototipar (desenhando as telas e fluxos do aplicativo) antes de partir para a construção do app. “O empreendedor precisa estar envolvido em todas as etapas e estar disponível para tirar dúvidas dos analistas e desenvolvedores, bem como estar presente nas fases de construção, testes e homologação”, conta.
6. Conhecimento do mercado e regulações
Muitos empreendedores de primeira viagem aventuram-se em um mar desconhecido, sem investigar com profundidade o mercado em que vão atuar. “É a primeira lição de casa: conhecer quem é o cliente, fornecedores, parceiros, intermediários, riscos do negócio, escalabilidade, etc.”, enumera.
Além disso, é preciso conhecer as principais regulações que envolvem determinado mercado, como impostos, regime tributário, configuração societária, bem como eventuais regulações por órgãos governamentais. Se for um app relacionado à saúde, por exemplo, em especial que atuem no diagnóstico, medição ou visualização de imagens, precisam ter aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e cumprir todos os ritos burocráticos, por exemplo. “É uma série de regras e implicações que não fazem parte do conhecimento da TI, mas sim de gestão e de negócio, podendo inviabilizar projetos antes mesmo de começar”.
Após cumprir todas essas fases que dizem respeito à viabilidade do negócio, é hora de desenvolver o software já com outros desafios pela frente, como entendimento do negócio pelo desenvolvedor, sinergia entre idealizador e equipe de desenvolvimento, bem como divisão de tarefas e cronograma com acompanhamento periódico.
7. Entendimento e sinergia
Um dos desafios é que a equipe de desenvolvimento seja informada sobre todas as regras do negócio e faça uma imersão no mercado e no seu negócio. Nesse approach, Gevaerd ressalta a importância da sinergia. “É um trabalho que leva vários meses e é necessário que haja vínculo de trabalho e parceria entre o cliente, que é o idealizador do produto, e a equipe de desenvolvimento. Se não ocorrer sinergia, o projeto perde o compasso”, observa o fundador da Gebit.
8. Divisão de tarefas com multiprofissionais
Fundamental para criar um app de sucesso é contar com uma equipe para divisão de atividades, o que evita vícios e conhecimento centralizado. Gevaerd conta que ao longo da sua carreira já presenciou casos em que ocorrem problemas graves de código e nos testes, devido ao conhecimento estar restrito a um só desenvolvedor. “Quando há uma equipe envolvida, o conhecimento é distribuído entre diversos profissionais, não correndo o risco de ficar refém de apenas um profissional. Quando se contrata um freelancer, por exemplo, ele consegue colocar um produto no ar com muita qualidade, mas é comum projetos serem deixados pela metade ou sem condições de dar suporte por muitas vezes realizar o serviço no contraturno”, alerta ele.
9. Cronograma com acompanhamento periódico
Devido à complexidade do desenvolvimento de software, é preciso definir reuniões periódicas para acompanhamento do cronograma inicial, fazendo ajustes e mantendo a expectativa alinhada entre o cliente e o desenvolvedor. Muitas vezes, desencontros podem acontecer nessa fase, pela falta de feedback sobre as etapas já cumpridas e as perspectivas de entrega. “Isso é muito frustrante, porque não se trata de um app, mas do sonho do empreendedor em ver seu negócio rodando”, conta.
10. Autonomia do cliente
Importante: não fique refém do desenvolvedor. Certifique-se que o código-fonte lhe será entregue após a finalização do projeto. “Nós entendemos que o projeto pertence ao cliente e, por isso, ele leva o código-fonte para efetuar melhorias dentro da sua própria equipe. O que se vê por aí são empresas que fazem o trabalho e licenciam o código-fonte para o cliente, mais ou menos como o pedreiro que cobra aluguel da casa que lhe foi confiada à construção, por exemplo”.
Seguindo todas essas fases, as chances de ser bem-sucedido aumentam, criando mais robustez para enfrentar a concorrência, os cenários e desafios que vêm pela frente após o lançamento do negócio. “Um app de sucesso começa com um empreendedor com mente aberta, flexível, que ama o seu propósito e tem disposição para conhecer profundamente o mercado onde está inserido”, conclui ele.
Foto: João Paulo Zerek, à esquerda, com o sócio Filipe Gevaerd, da GEBIT. / Divulgação GEBIT.