Conjunção de fatores recessivos impõe desafio aos investidores.
Foto: Divugação – João Henrique da Fonseca
Alguns fatores são bons previsores de recessões na economia americana e, consequentemente, em boa parte do globo. Dentre eles, quatro costumam ser bastante eficazes em sinalizar contrações: (1) inversão na Yield Curve americana; ou (2) FED praticando aperto monetário; ou (3) choque inflacionário externo (commodities); ou (4) queda do mercado acionário.
Esses fatores não precisam estar presentes ao mesmo tempo, por isso o uso do termo “ou”. Dentre os quatro citados, sem dúvida a Inversão da Yield Curve (quando as taxas longas são menores que as curtas) é a campeã de previsões – estando presente antes de todas as últimas oito recessões nos EUA. A subida de juros pelo FED (aperto monetário) também costuma ser assertiva, mas com exceções. No meio dos anos 90 o FED fez um aperto monetário que não resultou em recessão, por exemplo.
Os choques inflacionários, por sua vez, são como bombas de diversos tamanhos. Alguns são absorvidos pela economia americana sem botá-la em recessão, como o longo e lento boom de commodities dos anos 2000, por exemplo. Outros são armas de destruição em massa, como o choque fulminante nos preços do petróleo no início e no final dos anos 70 – com as guerras de Yon Kippur e Irã e Iraque, respectivamente. Portanto, sua assertividade em prever uma recessão está diretamente relacionada com o tamanho do choque.
O quarto fator, os mercados, poderia ser chamado de “termômetro de expectativas”. Os preços dos ativos refletem as expectativas dos agentes e por vezes os agentes costumam se desfazer de suas posições quando sentem o cheiro de que uma recessão se aproxima. Antes das recessões de 2001 e 2008, os mercados americanos já haviam feito seu pico e estavam em trajetória descendente, por exemplo. Contudo, esse padrão não é 100% assertivo.
Tudo isto dito, a situação destes 4 fatores hoje revela um cenário atipicamente alarmante. Quanto ao primeiro fator: a curva de juros americana está quase invertida (já ocorreu com “10 anos – 7 anos” e “10 anos – 5 anos”, faltando a inversão contra prazos mais curtos e com maior poder preditivo). Quanto ao segundo fator: o FED iniciou nesta semana um ciclo de aperto monetário ao subir os juros em 0,25% e contratar mais outros aumentos em seu comunicado. Quanto ao terceiro fator: o petróleo voltou para casa dos US$100 o barril, os minerais metálicos estão disparando (ex: Níquel) e muitas commodities agrícolas estão próximas ou superaram picos históricos. Por fim, quanto ao quarto fator: o S&P500 fez seu último pico nos primeiros dias de 2022, passando a tendência de queda desde então.
Em suma, ao invés de “ou” estamos prestes a ter a conjunção dos quatro fatores: Yield Curve invertida e FED fazendo aperto monetário e choque inflacionário e queda no mercado acionário. É inegável que fatores preditivos podem errar, mas uma conjunção como esta não deveria ser desrespeitada pelos investidores quando de suas decisões de alocação.
João Henrique da Fonseca, Economista e Sócio Fundador da Azul Wealth Management (AWM).
Entendo que devemos estar apreensivos com o mercado porém ultimamente a irracionalidade está tão grande que a decisão de vender pra comprar na baixa fica mais difícil a cada dia que passa, principalmente para pequenos investidores que acabam comprando ações pra ter participação nas empresas e não para especular mercado ou valor.
Ótima análise João!
Realmente se formos ver os “astros estão se alinhando” e esses fatores já estão muito presentes em 2022. O complicado vai ser buscar as boas opções de alocação mesmo, para onde pensa que seria mais seguro migrar? Estrangeiros parecem estar arriscando um pouco com o Real rs
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