Em meio à crise, Ministra da Saúde exonera responsável por compras hospitalares na rede federal do Rio
Carlos Ney Pinho Ribeiro, que estava no cargo há pouco mais de três meses, carrega histórico de forte atuação política pela cúpula do PT, em São Gonçalo, Região Metropolitana fluminense
A Ministra da Saúde, Nísia Trindade, exonerou Carlos Ney Pinho Ribeiro do posto de Coordenador-Geral de Governança Hospitalar no Rio de Janeiro. A decisão foi publicada em Diário Oficial nesta terça-feira. Ney era responsável por chefiar o órgão que centraliza as compras dos seis hospitais federais. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, sua saída, em meio à crise na rede federal de saúde, foi uma resposta à sua interferência política nas indicações a “cargos de confiança”.
Em seu lugar, a ministra nomeou Paula Lemos Ferreira dos Santos Glielmo que passa a ter competência para “autorizar gastos, emitir e anular empenhos, promover a liquidação das despesas, processar a movimentação financeira e designar servidores para também fazê-lo e executar outros atos necessários à execução orçamentária e financeira das programações sob sua responsabilidade”, conforme descrito no documento assinado pela ministra.
De acordo com funcionários, mesmo após a publicação assinada no dia 4 de abril que determina a centração do departamento de compras, os hospitais federais seguem desabastecidos de insumos e medicamentos.
Ney estava no cargo há pouco mais de três meses e carrega histórico de forte atuação política pela cúpula do PT no município de São Gonçalo, região Metropolitana fluminense, onde já foi secretário municipal de Saúde, teve sob seu controle as pastas de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e, até pouco tempo atrás, no período de 2017 a 2020, a de Cultura. Sua indicação ao novo cargo, à época, segundo apurou O GLOBO, é uma das muitas na estrutura dos hospitais federais do Rio influenciadas, desde 2022, pelo deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ).
Um jogo de xadrez que tem como pano de fundo ainda a eleição municipal deste ano em São Gonçalo, na qual o parlamentar, que é médico sanitarista formado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, vinculada à Fiocruz, deve enfrentar representantes da força do bolsonarismo na cidade.
Mais de R$ 863 milhões em mãos
Desde o início do ano, o Ministério da Saúde determinou fez exonerações e mudanças na estrutura organizacional das unidades, num cenário de pressão contra a ministra da Saúde. Além de Ney, o Coordenador de Atenção à Saúde, Laumar de Vasconcelos, que é amigo íntimo de Dimas Gadelha, também foi demitido do cargo. Agora, Joseane Alves Perreira Silva passa a exercer a função de Coordenadora-Geral de Governança Hospitalar e Eliane de Abreu Pimenta, de Coordenadora de Gestão de Pessoas.
As novas funções vão centralizar as aquisições no Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), mais especificamente na Coordenadoria-Geral de Governança Hospitalar, agora administrada por Paula Lemos, pondo nas mãos da Coordenadoria-Geral um orçamento de aproximadamente R$ 863,5 milhões previstos para este ano, R$ 88 milhões a mais que em 2023.
Ligação política
A ligação entre Carlos Ney e Dimas Gadelha (PT-RJ) é antiga. Ney foi secretário de São Gonçalo no mesmo período em que Dimas comandava a Saúde. Ele teve nas mãos as pastas de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e ajudou o deputado durante a campanha municipal de 2020, onde o então parlamentar concorreu à prefeitura de São Gonçalo. Na última disputa, o médico, ainda recém-chegado ao Partido dos Trabalhadores (PT), quase levou o comando do Executivo gonçalense. Capitão Nelson (PL), atual prefeito e seu desafeto político, foi eleito em segundo turno com 50,79% dos votos válidos, contra 49,21% de Gadelha.
Agora, com a publicação da nova portaria, toda compra para os seis hospitais federais no Rio, da complexa à mais simples, passará pelo crivo da Coordenadora-Geral do DGH. Isso ocorre num momento em que, do lado de fora das unidades, milhares de pacientes esperam por meses, até anos, um tratamento ou cirurgia. Ao mesmo tempo, do lado de dentro das unidades, há leitos equipados em salas trancadas a cadeado, materiais médicos vencidos e prédios sem manutenção básica de segurança, sintomas de descaso administrativo e gerencial mostrados no Relatório de Visitas Técnicas elaborado pela antiga direção do DGH em março de 2023 e divulgado pelo Jornal O GLOBO.
Fonte: O Globo