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Histórias em quadrinhos evoluem com a transformação digital

Gênero literário que cresceu consideravelmente no Brasil durante os últimos anos, as histórias em quadrinhos surgiram em tiras de jornais nos Estados Unidos, na virada do século 19 para o 20. No Brasil, o pioneiro foi Angelo Agostini, cartunista italiano radicado no país, que criou As Aventuras de Nhô Quim, em 1869. Porém, só a partir da década de 60 as publicações e os personagens brasileiros passaram a ganhar espaço, graças a artistas como Perotti, Ziraldo, Primaggio e Maurício de Sousa.

Mercado editorial

Desde que a Panamericana foi inaugurada, em 1963, o criador da Turma da Mônica ocupa as galerias da Escola com a exposição Impublicados – uma inusitada mostra com trabalhos e projetos que jamais saíram do papel. De grande interesse, inclusive pedagógico, para os alunos dos cursos da área, a exposição sempre revelou importantes aspectos da profissão e do mercado editorial brasileiro.

Nos anos 80, os grandes jornais brasileiros passaram a publicar trabalhos de autores nacionais em suas tirinhas e, no final do século 20, a Editora Abril já editava as principais revistas de heróis da Marvel, da DC Comics e da Image, além dos tradicionais personagens de Walt Disney.

Era digital

“O século 21 marca a ascensão do mercado de HQ, sobretudo por causa do surgimento de editoras especializadas, a criação de leis de incentivo, o aparecimento de grandes eventos voltados para a área e um público que se expandiu além dos pequenos nichos”, afirma Laudo Ferreira, professor de Histórias em Quadrinhos da Panamericana Escola de Arte e Design. Ele menciona ainda as transformações e tendências de crescimento geradas pela era digital.

Por exemplo, desde 2018, a Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos – um dos eventos acadêmicos mais importantes do mundo no Brasil – deixou de ser bienal e se tornou anual, ajudando os profissionais a entenderem melhor os elementos peculiares ao cenário nacional e aquecendo a indústria dos quadrinhos no país.

Ferreira explica que antigamente o setor de quadrinhos era dominado por publicações impressas, mas este cenário vem mudando. “O gênero foi abraçado pelo cinema e pelo universo dos games, com adaptações não apenas das gigantes internacionais, como a Marvel e a DC Comics, mas também nacionais, como Turma da Mônica. A produção de revistinhas se aprimorou com o sucesso das graphic novels e a forma de consumo se adaptou à transformação digital”, diz ele.

Publicações

Hoje, é possível baixar publicações em computadores, celulares e tablets por meio de plataformas como o Social Comics e o ComiXology. Sucesso absoluto na indústria americana, as publicações digitais também vêm ganhando espaço no Brasil, a julgar pelo crescimento constante de sites e plataformas dedicadas à sua publicação.

Além do maior alcance, a transformação digital também resultou em uma maior liberdade criativa para os quadrinistas, facilitando o contato com os editores, nacionais e internacionais, e com o público. Muitos profissionais optam por fazer uso de sites de financiamento coletivo, em que os leitores contribuem mensalmente com valores que escolhem para que o artista continue publicando seus trabalhos.

Nos últimos tempos, cresceu também a visibilidade dos quadrinhos brasileiros no exterior. A boa qualidade, diversidade e riqueza dos desenhos de artistas nacionais vêm chamando atenção em mercados tradicionais do mundo todo e nossos quadrinistas têm conquistado prêmios e espaço no exterior. O sucesso de trabalhos como os de João Pinheiro e Sirlene Barbosa, Marcello Quintanilha e Marcelo D’Salete ajuda a impulsionar o mercado no país e a superar a ideia que os relaciona exclusivamente ao público infantil.

A exportação de obras nacionais do gênero tem apoio da Fundação Biblioteca Nacional desde 2012. Um edital específico da FBN para editoras estrangeiras interessadas em publicar histórias em quadrinhos de brasileiros já levou o trabalho de brasileiros a 14 editoras de nove países.

“As histórias em quadrinhos podem ser convertidas em modelos de negócio de várias vertentes, seja no efervescente mercado editorial interno, com editoras e selos de maior ou menor porte; no mercado editorial internacional, que se interessa cada vez mais por profissionais brasileiros; no mercado digital; ou até mesmo no âmbito do licenciamento, onde existe sempre a possibilidade de venda de direitos para a produção de material relacionado a animações, filmes e games”, finaliza Ferreira.

 

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