Iniciativas da USP viabilizam produção de protetores faciais para profissionais de saúde
Em tempos de pandemia da covid-19, e visando a colaborar com os profissionais que atuam na área da saúde, pesquisadores da USP estão se dedicando à produção de protetores faciais que são usados por médicos, enfermeiros e demais profissionais da área da saúde.
O protetor facial é um equipamento que garante maior segurança aos profissionais quando colocado sobre a máscara normalmente usada por eles. Em geral, é composto de um suporte plástico e de um visor transparente, que em geral é feito com uma folha de acetato.
Uma das iniciativas vem sendo desenvolvida na Faculdade de Odontologia (FO) em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Lá, os pesquisadores já conseguiram produzir e entregar a unidades hospitalares mais de 7 mil unidades de protetores. Segundo a dentista Mayra Torres Vasques, que coordena o projeto na FO, a ideia partiu de um grupo de amigos e chegou à unidade da USP pela disposição de alunos, funcionários e docentes em colaborar. E o projeto foi, então, iniciado no último dia 20 de março. Na Unifesp, quem está à frente é a professora Maria Elizete Kunkel.
Design gratuito
O primeiro passo, segundo Mayra, foi confeccionar um desenho digital dos protetores seguindo à risca as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A partir disso, os suportes plásticos dos protetores faciais começaram a ser confeccionados nas impressoras 3D da FO.
Como a unidade não daria conta de uma produção em maior quantidade, o desenho foi disponibilizado gratuitamente a interessados que tivessem condições de imprimir em 3D o suporte plástico. Dentre os colaboradores estão pessoas comuns e representantes da indústria, que passaram a produzir o material em suas casas ou empresas. “Ao todo, já temos mais de mil colaboradores em todo o Brasil”, contabiliza a coordenadora. Daí o projeto ter conseguido fabricar mais de 7 mil unidades no País. Para o HU, segundo Mayra, até o momento foram entregues 30 unidades. “Mas a expectativa é aumentarmos esses números”, conta a coordenadora.
O suporte que compõe o protetor leva cerca de uma hora para ser impresso. Em seguida, é acoplada a folha de acetato devidamente recortada. “No início estávamos usando folhas em tamanho A4. Agora, seguimos as dimensões recomendadas pela Anvisa”, informa Mayra, lembrando que um dos problemas “está na obtenção destas folhas de acetato”.
De acordo com Mayra, o custo estimado de produção de cada protetor fica em torno de R$ 3 a R$ 4, mas ela reforça que todos serão doados a unidades hospitalares. “Queremos manter a produção enquanto durar a pandemia. Lá no Rio Grande do Sul já temos uma parceria sólida com uma empresa. Estamos buscando parcerias semelhantes aqui em São Paulo também. Nosso objetivo é atingir a produção de 3 a 4 mil unidades por dia”, diz a coordenadora. Os interessados em colaborar podem obter mais informações no site www.projetohigia.com.br.
Inova USP, Poli e FAU
Outra iniciativa que tem os mesmos objetivos conta com a parceria entre o Inova USP, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e a Escola Politécnica (Poli), congregando docentes e alunos. O Inova USP é um centro que visa a agregar e integrar laboratórios e diversas iniciativas. A demanda urgente de protetores faciais na linha de frente de atendimento aos pacientes com o novo coronavírus chegou ao Inova USP, que procurou articular uma iniciativa emergencial para ampliar a proteção dos profissionais de saúde. A articulação envolveu alguns laboratórios da USP com impressoras 3D e recursos de prototipagem. Na Poli, a produção foi iniciada na Oficina do Inovalab@Poli, localizada no Departamento de Engenharia de Produção, com a coordenação do professor Eduardo Zancul. Os contatos na FAU foram feitos com a professora Cristiane Aun Bertoldi, do Departamento de Projeto na área de Design da FAU.
Produção
A produção foi iniciada com projetos abertos (open source, que podem ser acessados por qualquer um) do protetor facial, com a intenção de aperfeiçoá-los para acelerar a produção. “Esses projetos já haviam sido aprovados por médicos das unidades hospitalares universitárias do Rio de Janeiro e de São Paulo”, conta Cristiane.
Num primeiro momento, foi solicitada à FAU projeto de modelos de protetores e a confecção por meio das impressoras 3D de seus laboratórios. “Posteriormente, como apareceram alguns pequenos problemas, como o tempo de confecção de um protetor, que é de cerca de uma hora, começamos a trabalhar no aperfeiçoamento do projeto”, conta a professora. No projeto atual desenvolvido por Cristiane, e que será disponibilizado gratuitamente, já não são mais usadas as impressoras 3D. “A montagem é feita com componentes de nylon, o que agiliza a produção”, diz a professora.
Distribuição
De acordo com Zancul, na primeira semana do projeto foram confeccionados 40 protetores faciais, sendo que 39 foram entregues ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) . “Nesta segunda semana queremos confeccionar 900 unidades com um projeto de produção otimizada desenvolvido na FAU pela professora Cristiane e equipe”, releva o docente da Poli, ressaltando que “o projeto foi avaliado no HC e recebeu indicação positiva”.
Seguindo o planejamento, na segunda-feira, dia 6 de abril, as primeiras 300 unidades foram finalizadas e enviadas ao HC. Em relação a custos, o professor lembra que é difícil estimar, visto que boa parte dos materiais é doada. Os recursos de fabricação são da própria USP e a mão de obra de montagem vem sendo feita por técnicos e alunos bolsistas e voluntários, que participam motivados para ajudar a proteger os profissionais de saúde.
Em rápida evolução, a equipe envolvida trabalha agora para articular o fornecimento empregando processos de fabricação em alta escala de produção integrando empresas, fornecedores de matéria-prima e a logística de distribuição.
Fonte: Jornal da USP