Sustentabilidade

Cientista fecha acordo com Burger King para vender hambúrguer sem carne

Pat Brown, da Impossible Foods, avança em sua estratégia de “salvar o mundo” com estratégias vegetarianas bem sucedidas. No início de abril ele fechou um acordo com o Burger King e está prestes a apresentar o hambúrguer sem carne para o mundo do fast food.

Como professor de bioquímica de 64 anos, Pat Brown se destaca entre os muitos fundadores de startups bilionárias do Vale do Silício na casa dos 20 anos. Mas o que lhe falta em juventude, ele compensa com ambição. Em vez de simplesmente mudar o mundo, Brown pretende salvá-lo, e o negócio entre a Impossible Foods, sua startup que produz carne à base de plantas, e o Burger King representa um grande passo na conquista de seu objetivo de reduzir as emissões de carbono geradas pela indústria da carne.

Brown é conhecido na comunidade científica por suas pesquisas em genética e microbiologia – incluindo aí a definição do mecanismo pelo qual o vírus do HIV infecta as células. Após tirar um período sabático de seu cargo de professor na Universidade Stanford em 2010, ele queria encontrar uma questão global em que pudesse realmente fazer a diferença.

Ele concluiu que encontrar as causas do câncer ou do Alzheimer era menos importante que os danos ambientais provocados pelo consumo de carne e laticínios. “Nada chega remotamente perto do catastrófico impacto ambiental da atividade pecuária”, afirma.

Dos gases causadores do efeito estufa emitidos pelos animais, aos efeitos negativos sobre a terra e a água, ele está convencido de que os humanos caminham para um desastre ecológico se o consumo de carne e produtos láteos não for reduzido ou mesmo eliminado.

Brown percebeu que em vez de pregar uma mudança nos hábitos alimentares, ou fazer lobby para mudar as leis, oferecer aos consumidores proteínas alternativas e saborosas seria a maneira mais eficiente de desencadear a mudança.

Vegano e maratonista, ele não come carne há quase cinco décadas e produtos lácteos há mais de 15 anos. “Se você conseguir descobrir o que torna a carne uma delícia… Você pode salvar o planeta de uma catástrofe ambiental”, diz, com fervor messiânico.

Com o apoio do investidor do Vale do Silício Khosla Ventures, Brown lançou a Impossible em 2011, com uma equipe que inclui bioquímicos moleculares, químicos e pesquisadores de dados, para criar a carne à base de planta a partir de um nível molecular.

Samir Kaul, sócio-fundador da Khosla Venture com formação na área de genoma e que admirava Brown na época em que foi cientista, diz que foi fácil tomar a decisão de apoiá-lo. “Ele tem um histórico de assumir grandes desafios e, francamente, ser bem-sucedido neles.”

A Impossible descobriu que a heme, uma molécula de proteína que contém ferro e está presente em plantas e animais, é o ingrediente mágico que dá à carne o seu aroma, sabor e textura. Produzida por meio da engenharia genética e a fermentação de leveduras, a heme está por trás dos “sucos” que fazem o hambúrguer da Impossible Foods sangrar.

Em 2016, a startup lançou um hambúrguer feito de proteínas de trigo e batata, óleo de coco e heme, que tinha a aparência, sabor, cheiro e “chiava” como um hambúrguer de verdade.

Antes mesmo de a Impossible lançar um produto, Brown recusou uma oferta de centenas de milhões de dólares pela companhia, feita pelo Google em 2015. “Pessoalmente para Pat Brown, o motivo de fazer isso não é ficar rico. É fazer do mundo um lugar melhor para se viver”, diz Kaul.

Em 2019, a companhia lançou um novo e melhorado hambúrguer, depois de trocar o trigo por soja e usar menos sal. Após assinar um acordo de distribuição com o Burger King, a startup está captando recursos para melhorar a capacidade de sua unidade de produção em Oakland, na Califórnia.

Junto com a concorrente Beyond Meat, que está preparando a abertura do seu capital nos Estados Unidos, a Impossible vem tentando atrair os consumidores que comem carne e querem reduzir isso ou buscam opções saborosas, ampliando seu campo de atuação para além dos veganos.

O teste com o Burger King está começando em St Louis, Missouri – o coração do churrasco e da carne nos EUA -, mas a Impossible espera que seu produto esteja disponível no país todo até o fim do ano. A startup vem ampliando gradualmente a disponibilidade do hambúrguer, de restaurantes chiques como o Momofuku Nishi de Nova York e o Jardiniere de San Francisco, para redes maiores de restaurantes como a Cheesecake Factory e a White Castle. Brown parece ter assumido seu papel de empreendedor com facilidade. Ele disse aos investidores que se o apoiassem, os deixaria “loucamente ricos”.

Seus pronunciamentos de que não se importa com eventuais desistências em seu projeto vêm sendo vistos como arrogantes por alguns investidores de capital de risco. No entanto, Brown conseguiu levantar mais de US$ 475 milhões desde 2011 e atraiu muitos outros apoiadores, como a Viking Global, Bill Gates e a Horizons Ventures, de Li Ka-shing.  Os investidores acreditam que a captação de recursos mais recente avaliará a companhia em mais de US$ 1 bilhão. Bruce Friedrich, que lançou o Good Food Institute, uma organização sem fins lucrativos que promove proteínas alternativas e aconselha startups, classifica Brown de “um profeta” e elogia seu “otimismo contagioso”.

Mas nem tudo tem sido um mar de rosas. A Impossible reduziu a quantidade de sal em seu novo hambúrguer depois que ativistas da saúde o criticaram pelo excesso da substância. A companhia teve de esperar vários anos para que a Food and Drug Administration (FDA) reconhecesse, no ano passado, que a heme é “no geral identificada como segura”. Além disso defendeu os testes de seus produtos em ratos, depois de críticas do grupo Peta, que defende os direitos dos animais.

Se o hambúrguer da Impossible for bem-sucedido, Brown espera eliminar a carne animal da cadeia alimentar até 2035, ajudando a Terra a restabelecer sua cobertura vegetal.

“Metade das terras do planeta foram bastante destruídas pela pecuária”, afirma ele. “Portanto, a nossa substituição desse setor por uma pequena fração de terras, o impacto que isso vai causar e a recuperação resultante dos ecossistemas serão visíveis do espaço sideral.”

Com informações do Financial Times.

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