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Comunicação Não-Violenta, Empatia e Conectividade

“Não pense que o que diz é empatia. Assim que pensa que o que diz é empatia, estamos distantes do objetivo. Empatia é onde conectamos nossa atenção, nossa consciência, não o que falamos”, diz Marshall Rosenberg, fundador da Comunicação Não-Violenta.

No começo dos anos sessenta, em sintonia com o movimento dos direitos civis americanos, Rosenberg começou a trabalhar como orientador educacional em escolas e universidades que superavam a segregação racial, um processo que não foi pacífico. Durante esse período tenso, porém rico de experiências inovadoras, ele realizava arbitragens, conciliações e treinamentos.

Os quatro componentes da Comunicação Não-Violenta (CNV) são: observação, sentimento, necessidades e pedido. Elas passam obrigatoriamente pela capacidade de se expressar com honestidade.

Na vida privada e na pública. Mas, essa honestidade nunca pode agredir. Observar, de maneira descritiva e não julgadora, é o primeiro passo para a paz.

Aparentemente nos consideramos ótimos observadores da realidade, mas não percebemos a sutil diferença em afirmar que “fulano é um babaca” ou que “quando fulano fala alto e usa xingamentos ele me oprime, eu me sinto acuado e com medo”.

No primeiro caso, estamos fazendo uma observação carregada de adjetivos que transformam um retrato particular numa história taxativa de como uma pessoa age se detendo nas aparências, sem oferecer empatia.

O autor da frase negligencia sua profunda necessidade e reage ao que sente diante daquela ação e despeja sobre o outro sua fúria. Precisamos saber dizer ao outro como nos sentimos. E saber perguntar como o outro se sente. É mais fácil especular que perguntar sem julgamentos. Empatia não é saber como o outro se sente, mas se colocar no lugar dele.

Quando a gente acha que sabe como o outro se sente é o ego que julga. A observação da CNV procura descrever o fato sem generalizações ou exageros linguísticos como “sempre”, “nunca”, “jamais”.

Ao contrário do julgamento que cria uma reação defensiva e cheia de culpa, o observar tem o efeito de aproximar as pessoas porque não taxa ou fecha alguém num adjetivo. Além do mais, evita o discurso carregado de culpa, merecimento ou punição que tanto utilizamos ao avaliar uma pessoa.

O segundo passo é analisar o sentimento: como nos sentimos em relação ao que estamos observando? Nosso repertório sentimental é muito pobre, normalmente expressamos sentimentos como “um troço no peito” ou “sinto como se você me odiasse”.

Nos dois casos não há nenhuma descrição efetiva de sentimento. No primeiro, falamos de uma sensação física inespecífica e no segundo falamos de um pensamento seguido de um julgamento sobre o outro.

Talvez fosse mais exato falar em “me sinto angustiado” ou “me sinto triste quando diz você que vai embora de casa”. Além do pouco que conhecemos sobre sentimentos, ainda existe o agravante de os considerarmos um sinal de fraqueza.

A CNV estimula uma forma de expressão que revela o emocional, mesmo que se corra o risco de ser visto como fraco. Dialogar a partir de um sentimento desarma uma reação hostil. É basicamente isso que São Paulo disse com a frase: “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”.

Muitas vezes fingimos ser fortes e nesse fingir esquecemos até o que queremos e o que somos. E o outro nunca vai saber quem somos ou do que precisamos de verdade. E será que o outro é tão forte e insensível, tão distante e arrogante quanto parece? “

As pessoas que parecem monstros são apenas seres humanos cuja linguagem e comportamento às vezes nos impedem de perceber sua natureza humana”, diz Marshall Rosenberg.

Diante de uma pessoa que age de forma raivosa ou descontrolada, não notamos que ela está se sentindo completamente incapaz de fazer pedidos claros e se conectar com sua própria dor.

Uma pessoa que projeta uma imagem “durona” costuma estar paralisada pelo medo de ser vista como vulnerável e perder autoridade ou controle.

A raiva costuma ser resultado de uma necessidade não atendida associada a uma interpretação distorcida de um fato. Ao se irritar com um amigo pelo atraso, lembre-se que não é o atraso apenas que causou a raiva, mas o desapontamento de não se sentir respeitado em sua presença.

Longe de ser irracional, a raiva é determinada pelas imagens e interpretações feitas por nós das ações dos outros – tendo como referência nossa idealização do que seria justo.

Quando expressamos raiva, gastamos uma energia enorme em punir alguém e não focamos em atender as nossas necessidades.

Ao mesmo tempo usamos julgamentos, análises e ideias conspiratórias de que os outros são maus, mentirosos, irresponsáveis, corruptos e gananciosos.

Certamente alguém que nos ouça nesse estado emocional não irá se interessar pelas nossas necessidades, mas apenas reagir com indiferença e hostilidade.

Quando se sentir prestes a explodir, experimente:

1. Parar e respirar profundamente

2. Identificar os próprios pensamentos, em especial aqueles julgadores

3. Conectar-se às próprias necessidades, escondidas por trás da raiva

4. Expressar seus sentimentos e necessidades não-atendidas

Necessidade e pedido são as últimas fases para conclusão de uma Comunicação Não-Violenta. Elas são o resultado direto da honestidade com que foram feitas as duas primeiras.

Quando temos as mesmas necessidades compartilhamos das mesmas sensações prazerosas. Mas, quando elas são diferentes, podem surgir conflitos.

Porém, o que você necessita de verdade? O que você realmente quer pedir? Demonstrar isso sem culpar o outro, sem exigir e com o olhar da compaixão pode ser o maior passo para se conectar de verdade.

É preciso ficar atento a todos esses detalhes para criar um vocabulário que facilite a tão desejada conectividade, dentro e fora das redes sociais. Tenho a esperança de que ao terminar de ler esse texto você possa estar menos adormecido para a compaixão.

A oração de São Francisco fala disso: “É dando que se recebe”. Também gostaria de ressaltar que a CNV não é uma maneira de obrigar você a parecer passivo, simpático ou com ausência de força, mas em como chegar em resoluções que possam alinhar você, o outro e o mundo em que vivemos.

Estou tentando colocar em prática, mas nem sempre eu consigo. Porém, sigo tentando. Diariamente.

Para aprofundar:
“Comunicação não-violenta – técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”
Marshall Rosenberg – Editora Ágora

Rosa Miranda é jornalista e consultora em planejamento criativo, gerenciamento de crise e comunicação afetiva.

FONTE: JOB Comunicação&Marketing

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